Exageros à parte, por que a segundona gera tanta aversão e ansiedade? Um dos motivos para tanto mau humor talvez esteja na mudança dos ponteiros do nosso relógio biológico, afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR, uma entidade internacional dedicada ao estudo do estresse. Os horários geralmente são menos rígidos no sábado e no domingo, explica a especialista, que foi jurada do 2° Prêmio SAÚDE. Não é à toa que a gente quebra a rotina nessas 48 horas: dorme mais do que de costume, come fora de hora ou mais tarde que o habitual sem falar nos goles a mais nas mesas dos bares.
Daí, chega a segunda-feira e o organismo tem de, numa curta fração de tempo, reajustar seus ponteiros para voltar à labuta cotidiana. É esse processo de readaptação, segundo Ana Maria, que está por trás do cansaço e da preguiça que pintam logo de manhãzinha.
Uma pesquisa conduzida na Universidade Flinders, na Austrália, dá crédito a essa teoria, pelo menos no que diz respeito às horas de sono prolongadas no fim de semana. Os cientistas pediram para 16 indivíduos dormirem duas horas a mais em relação aos dias de batente. Em seguida, eles coletaram amostras de saliva e de hormônios dos voluntários. Além de o relógio biológico dos participantes estar atrasado 45 minutos, os questionários respondidos na segunda e na terça-feira seguintes revelaram que eles estavam mais cansados.
Novamente os exageros do fim de semana justificam a eclosão de males cardíacos na segunda-feira. A ingestão de sal em excesso e álcool, além do cigarro, sobrecarrega o coração. Sem falar daquele sedentário que resolve jogar futebol, detalha o cardiologista Ricardo Pavanello, do Hospital do Coração, em São Paulo. Daí, o estresse do trabalho na segunda é a gota que faltava para o copo derramar. No entanto, como lembra o especialista, isso não quer dizer que os infartos vão acontecer categoricamente no dia mais odiado da semana. Na verdade, aquela conjunção de fatores favorece a ocorrência desses problemas cardiovasculares na segunda. Mas eles podem acontecer em qualquer dia, explica Pavanello.
Além do corpo, a mente sofre, principalmente em quem começa a antecipar de forma negativa a chegada da segunda-feira no almoço de domingo. De acordo com a psicóloga Ana Maria Rossi, trata-se de uma atitude recorrente em quem está de mal com o trabalho, por exemplo seja porque não se dá bem com os colegas, seja porque o salário não compensa o esforço. A pessoa arruina seu domingão antes mesmo de a música daquele fantástico programa ecoar na telinha à noite. Nesse caso, o importante é ficar no aqui e agora, curtir o momento, aconselha Ana Maria. Para evitar a antecipação dessas más vibrações, a dica é, antes de mais nada, procurar estímulos recompensatórios. Ok, o ambiente na empresa não está aquelas coisas, mas o cheque no fim do mês justifica carregar esse fardo, por exemplo. Em outras palavras, deve-se focar em algo positivo. Se essa estratégia não surtir efeito, a saída é enfrentar a situação: mudar de emprego.
O também psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, lembra que o fim de semana é uma espécie de libertação do peso do cotidiano. E passa rápido. Mas por que o trabalho tem de ser encarado de forma tão dura? E por que a gente só pode se sentir relaxado no sábado e no domingo?, ele pergunta. Cinema somente aos domingos também vira rotina, como a do trabalho, e a happy hour da sexta-feira. É preciso criar alternativas, diz Pereira. Ver um filme na quinta-feira à noite, quem sabe. Com equilíbrio, dá para criar outras rotinas e tornar a segunda- feira menos chata.
Ou seja, pregar os olhos na noite de domingo acaba demorando mais e, como consequência, o corpo sente na segunda-feira efeitos similares aos do jet lag. Além do sono, o coração também padece nesse dia. Uma pesquisa publicada na Revista de Saúde Pública mostrou que o pico de hospitalizações por problemas cardiovasculares e infarto do miocárdio na região de Ribeirão Preto, no interior paulista, ocorria na... Nem precisa dizer, né?
Fonte: Saúde Abril
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